Este assunto apesar de extremamente importante não é muito divulgado e é de conhecimento de poucas pessoas.
Simplesmente porque a torção do cordão espermático (também chamada de “torção de testículo”) pode causar a perda anatômica ou funcional de um órgão.
Na formação embriológica, os testículos são formados no abdome e descem até a bolsa testicular durante o desenvolvimento (a falha da descida é chamada de criptorquidia). Acontece que em alguns meninos, a fixação do testículo na bolsa testicular (escroto) é imperfeita. Dessa forma, o testículo fica suscetível a rotação do cordão espermático causando impossibilidade de chegada do sangue ao órgão, causando hipóxia e isquemia.
Via de regra, o testículo sem sangue pode ser recuperado até 6 horas após a torção. Mas esse tempo é variável uma vez que dependerá de outros fatores como o número de voltas que o testículo girou.
Normalmente, são crianças e pré-adolescentes. E aí inicia-se a dificuldade para suspeitarmos do problema. Quando a criança é muito pequena, não tem a possibilidade de falar e explicar o que está acontecendo. Cabe aos pais e cuidadores observarem se há alguma diferença durante a troca da fralda ou no banho, além da irritabilidade que normalmente acontece. Quando a criança é um pouco maior, pode falar. Mas algumas vezes, sente-se envergonhada principalmente se não estiver junto à família no momento do ocorrido.
Há uma dor aguda, de forte intensidade em um dos testículos, de início súbito. Apesar de haver descrição de torção relacionada a atividades esportivas (como bicicleta) ou manipulação genital, não há nenhuma evidência de que exista um desencadeador imediato. Após pouco tempo da torção, a dor se instala, pode irradiar-se para o abdome e inicia-se um processo de aumento do volume escrotal do lado acometido. Olhando atentamente é possível observar que o testículo acometido encontra-se mais elevado do que o esperado.
O diagnóstico é feito pelo médico através do exame físico e pode ser confirmado através de ultrassonografia com doppler colorido da bolsa testicular.
E se não houver disponibilidade de realização do exame? O exame físico deve ser o suficiente para se indicar exploração cirúrgica no caso de suspeita dessa condição.
O tratamento é cirúrgico. O médico Cirurgião Pediátrico, Urologista ou Cirurgião Geral têm condição de realizar o procedimento de exploração escrotal e proceder a manobra de correção da torção. Essa é considerada uma cirurgia de urgência. Não há possibilidade de perder tempo por qualquer que seja o motivo.
A chegada rápida ao hospital, a pronta avaliação da equipe do Pronto Socorro assim como a agilidade na indicação e realização da cirurgia são fundamentais para que seja possível salvar o órgão.
Caso o testículo seja viável, será mantido e fixado no escroto para que não ocorra novamente. Caso o testículo já tenha necrose em virtude da isquemia, deverá ser removido. No lugar, pode ser colocada uma prótese testicular apenas para fins estéticos.
O testículo contra-lateral (não acometido) também deverá ser fixado, uma vez que a falha na fixação natural do testículo também deve estar presente e uma torção do outro lado poderá ocorrer no futuro.
Normalmente, um testículo apenas é suficiente para manter tanto a função hormonal (produção de testosterona) quanto reprodutiva. Mas esses pacientes devem ser acompanhados pelo Pediatra e posteriormente pelo Urologista.